20/07/17 às 10h43 - Atualizado em 16/05/19 às 15h52
O mundo precisa de mais lobos-guará
Desde criança, costumamos ouvir histórias sobre o lobo mau, que sempre tenta devorar alguém. No entanto, isso está muito longe da verdade. Bem diferente do animal ameaçador descrito nas fábulas, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é a maior espécie de cão selvagem da América do Sul e chama a atenção tanto pelas pernas longas, que renderam-lhe o apelido de “raposa em pernas-de-pau”, como pela vistosa pelagem avermelhada. Esses pelos, aliás, são a origem do seu nome popular, pois “guará” deriva de uma palavra do idioma tupi que significa “vermelho”.
Habitante dos campos e cerrados, o lobo-guará percorre seu território com um andar desengonçado, caçando pequenos animais e também se alimentando de frutas, como a lobeira. Por causa desta dieta variada, essa espécie exerce uma importante função ecológica no controle da população de roedores e dispersão de sementes nos ambientes onde vive. É por isso que alguns pesquisadores chegam até mesmo a chamar o lobo-guará de “o guardião do Cerrado”. Mas, infelizmente, o ser humano também está criando problemas para este guardião. Outrora encontrado por quase toda a região central do continente sul-americano, o lobo-guará é hoje considerado extinto no Uruguai e desapareceu de boa parte do norte da Argentina e sul do Brasil. A espécie sofre com a destruição do habitat, doenças transmitidas por cães domésticos e a caça ilegal, que é motivada inclusive por crendices populares de que o lobo-guará traz “mau agouro”.
Algumas populações estão tão pequenas e fragmentadas que só conseguirão sobreviver a longo prazo com a ajuda de mãos humanas, como, por exemplo, no caso da Estação Ecológica de Águas Emendadas. Uma estimativa recente sugere que não existam mais do que 20 lobos-guará nesta Unidade de Conservação do Distrito Federal. Ou seja, corremos o risco de perder um ícone do Cerrado e ficarmos mais perto de um mundo sem lobos-guará, bem aqui no coração do Brasil. E o Zoológico de Brasília não pode permitir que isto aconteça.
Esta é a razão de cuidarmos de nove lobos-guará, pertencentes a duas famílias distintas, e manejá-los de forma a que se reproduzam e contribuam para a diversidade genética da população sob cuidados humanos ao redor do globo. Este é um trabalho que já está profundamente arraigado na nossa história, pois nos tornamos, em 1963, um dos primeiros zoos no mundo a criar esta espécie com sucesso. Paralelamente, ainda colaboramos com o IBRAM, IBAMA e ICMBio na reabilitação de animais resgatados de atropelamentos, queimadas e feridos por caçadores e armadilhas. No ano de 2015, por exemplo, uma fêmea de lobo-guará baleada no flanco foi operada e tratada pela equipe do Hospital Veterinário do Zoológico de Brasília e, após estar recuperada, foi devolvida à natureza. Todas essas ações fazem parte de um comprometimento com uma missão muito maior, de garantir a existência de populações saudáveis dos animais e para que haja um mundo com lobos-guará no futuro. Se você também não aceita um mundo sem este guardião do Cerrado, venha conhecer nosso trabalho e compartilhar desse sentimento. Afinal, “O mundo precisa de mais #lobos-guará!”.